Estava aqui pensando num assunto que fosse legal para
escrever sobre, quando a Cláu me sugeriu falar sobre ser au pair de um baby, e
eu gostei da idéia.
Como tudo, cuidar de um baby tem seus prós e seus contras.
Para mim, mais prós do que contras.
Cuidar de um baby é garantia de que durante seu ano de au
pair você terá sempre uma criaturinha que olhará para você como um ponto de
referência, com um amor inocente de uma criaturinha pura. Um companheirinho ou
companheirinha, que irá crescer e amar você incondicionalmente e confiar em
você de uma maneira que talvez jamais ninguém confiou.
Isso, me desculpem as au pairs de crianças mais velhas, só
tem quem é au pair de bebê.
Sim, um bebê não fala. No início. Você “não tem com quem
praticar o inglês”. Porém, se você ficar os dois anos, vai ter a satisfação de vê-lo
falar até pelos cotovelos. E foi você, em grande parte, responsável por isso.
Um parêntese aqui.
[Desculpe aí querida au pair, mas se você vem com o objetivo
máster de “aprender inglês a qualquer custo” não vai ser por causa do bebê que
não fala que você vai se frustrar... vai ser porque você vai estar limitando
seu sonho ao simples “ficar fluente” ao invés de explorar as infinitas
possibilidades que os EUA oferecem em diversão, aprendizado, enriquecimento
cultural, etc. Inglês a gente aprende. De um ou de outro jeito, tendo que se
virar no dia a dia. Você aprende. Aliás, quem quer mesmo aprender, mesmo
cuidando de um baby, canta, fala sozinha, treina a pronúncia lendo um livro em
voz alta. Ou seja: não é a falta de falar com crianças mais velhas que vai te
limitar de aprender o idioma SE ESSE FOR TEU OBJETIVO PRINCIPAL (e SE você for
meio que paranoica com voltar com um inglês tinindo).
Ah, aproveito para te falar: para ser fluente numa língua são
necessários 5 anos de imersão. Não um. Não dois. Cinco. ]
Cuidar de um bebê significa você sentar no chão, dar uma
colher ou outro objeto qualquer na mão do pequeno (nada de objeto pequeno que
caiba na boca, pelamor de Deus!) e ficar observando ele se maravilhar por esse
objeto novo.
(Crianças mais velhas não se maravilham nem com o último
modelo de iphone).
Cuidar de um bebê significa descobrir uma coisa absurda qualquer que
faz ele rir às gargalhadas, e repetir infinitamente só para ouvir essa risada
gostosa e rir junto.
Cuidar de um bebê significa aprender musiquinhas de ninar,
ou musiquinhas para brincar, ler (e aprender de cor) livrinhos bobos que vão te
ajudar a conhecer palavras novas em inglês. Meus favoritos eram the wheels on
the bus e five little monkeys, que o pequeno B. gostava que fizesse ele pular
nos meus joelhos quando os macaquinhos pulavam na cama.
Cuidar de um bebê significa sair de stroller pela cidade. No
início você se sente meio envergonhada porque na sua cabeça brasileira “as
pessoas na rua podem pensar que é meu filho”, mas logo se acostuma a que está
nos EUA e ninguém dá a mínima e até está manobrando o carrinho na porta do
Starbucks para grab a cup of coffee on my way to the park. É ir conversando e
cantando com um toddler (nome que se dá aos bebês grandes e crianças pequenas, ou seja de 1 a 3 anos) cansado e mostrando tudo que vê pelo caminho para que
ele não durma e estrague o horário do almoço, sem importar quem está vendo você
cantar em voz alta para um bebê sonolento.
Talvez também signifique levar o pequeno à aulinha de música
e ter que pagar lindos micos na frente dos pais para encorajar o pequeno a
mostrar o que aprendeu de bom na aula (bater palmas ou dançar, etc).
Cuidar de um bebê significa uma, duas ou três (ou até mais,
no início) naps por dia. Ou seja, momentos em que você vai poder sentar um
pouquinho para descansar.
No meu caso, minha host deixava separadas leituras
selecionadas de livros sobre childcare que ela ia lendo e que gostaria que eu lesse
também para me aprimorar. Como eu amo ler, amo babies e cuidados com babies e
acho que conhecimento não ocupa espaço, lia com gosto. Era bom “trabalhar”
sentada lendo um livro, nem que fosse por alguns minutos. Porque sim, o nap
pode durar 2 horas, mas também pode durar apenas 15 minutos. Essa é a parte
brava.
Teve uma época em que “meu” baby dormia 25 minutos. Cravados
25 minutos. E acordava. E eu mal tinha sentado, ou estava no meio de uma sessão
de lavação de mamadeiras do dia anterior, ou tinha acabado de descer as escadas
para pôr o laundry.
Mas depois passou e ele passou a ter padrões de sono. Uma
nap grande de manhã e uma de tarde. Então eu podia me programar para fazer o
laundry ou cozinhar a papinha dele enquanto isso. Na minha host-casa era assim:
tudo era orgânico, então as frutas e verduras tinham que ser lavadas, picadas e
cozinhadas por mim, durante o nap (isso quando o bebê passou a fazer naps mais
longas).
Cuidar de um bebê tem fases, porque ele vai mudando muito a
medida que vai crescendo, e isso no início acontece a cada semana, depois a
cada quinzena, depois a cada mês... aos poucos as mudanças vão ficando mais
espaçadas. Seu trabalho nunca é repetitivo: tem a fase de olhar o tempo todo para
ele não levar nada à boca, tem a fase de começar a dar papinha e ver as caretas
ao provar algo desconhecido. Tem que carregar para tudo que é lado, nunca
deixar sozinho num cômodo, tomar cuidados redobrados principalmente em casas
que tem escadas (basicamente, todas as casas americanas). Tem a fase de
encorajá-lo a engatinhar, a andar, e olha, cada proeza que ele faz pela
primeira vez é uma mistura de alegria e orgulhinho inexplicável! E é claro, não
pode ter nojo de trocar fraldas!
Na boa, quando eu cheguei lá tinha trocado umas... 3
fraldas. Na minha vida inteira! Tentei disfarçar a falta de traquejo e logo,
observando e tentando me superar, virei expert. Trocava olhando para ele e fazendo caretas. Trocava enquanto tentava impedir que ele tocasse na fralda suja. Trocava em menos de 1 minuto,
isso contando o abrir e fechar de roupinhas. 2 minutos se era um cocô bravo. Rsrs.
Eu morria de medo de que ele fosse engatinhar/andar/falar
pela primeira vez comigo e não com os pais... quer dizer, não medo, mas se por
um lado queria estar presente quando acontecessem esses momentos importantes,
desses que rolam na cabeça da gente ao som da música-tema de ‘2001-uma odisseia
no espaço’, achava triste ter que chegar para os pais quando eles me
perguntavam como foi o dia e dizer: “foi ótimo! Você nem imagina! O B. finalmente
andou hoje!”
Mas confesso que alguma vez (não me lembro qual foi o
milestone que ele alcançou) aconteceu enquanto estava comigo e fiquei na minha,
não falei nada e esperei que ele fizesse com eles e que eles viessem me contar
orgulhosos. Shhh segredinho de au pair.
Para ser au pair de um bebê (na verdade para ser au pair de
qualquer criança, mas é especialmente importante quando se trata de um
bebê) a comunicação e o bom relacionamento com os pais é fundamental. O pequeno
não vai conseguir dizer se já comeu e quanto comeu, se fez cocô naquele dia, se
aconteceu uma coisa qualquer. E os pais precisam saber da maior quantidade de
detalhes possíveis. Se acontecer algo, digamos o bebê passar mal durante a
noite, ou tiver febre, os pais não vão conseguir perguntar para ele o que comeu
durante o dia, se dormiu, bebeu água, fez cocô, pegou muito sol, ou se se
comportou de maneira estranha em algum sentido. E mais: bebês que começam a se
movimentar estão sujeitos a tombos, hematomas e outros machucadinhos diversos,
que vão aparecer no corpinho dele. Explique SEMPRE para os pais no fim do dia o
que aconteceu, se ele caiu, onde se bateu, enfim. Não espere eles virem
questionar nem um “roxo” que apareceu no joelhinho! JAMAIS esconda nenhum tipo
de informação dos pais, e não preciso nem dizer né, JAMAIS use de força com um
indefeso, seja tapa, beliscão, puxão no braço, NADA! Entendeu? Parece óbvio,
mas conheço au pairs que perdiam a paciência e acabavam puxando a criança pelo
braço, dando uma palmadinha, etc. Que o bebê não possa contar aos pais não quer
dizer que você pode fazer isso só porque não será descoberta (se não tiver
câmeras). Isso é uma covardia! NÃO FAÇA NUNCA!
Falando em câmeras. Numa casa em que você, praticamente uma
desconhecida, irá ficar o dia inteiro com um baby, acostume-se com a ideia: é
bem possível que haja câmeras.
Se seus hosts forem bem abertos irão contar. Mas... não ache
que é obrigação deles e muito menos que não é o direito deles instalar câmeras
e não te contar! Pense bem: até que ponto você confiaria numa semi-estranha,
que agora mora na sua casa, o cuidado com seu pequeno indefeso? E por que eles
deveriam, necessariamente, contar que há câmeras? A casa é deles, o filho é
deles, e você não deveria estar fazendo nada que pudesse te deixar em “maus
lençóis”.
Dica: trabalhe SEMPRE como se realmente tivesse um jogo de
câmeras te vigiando em cada cômodo.
A minha host chegou a perguntar, algum tempinho depois que
cheguei, como me sentiria se tivesse câmeras na casa. Eu fui bem sincera: era
um direito deles, o qual eu compreendia muito bem e inclusive seria uma
segurança para mim mesma saber que estavam cientes de tudo que estava acontecendo e caso acontecesse uma coisa qualquer eles saberiam de imediato.
Mas não tinha câmeras. Acho. :)
Ah, e como você vai passar o dia todo cuidando dele, é bem
provável que todos ou quase todos seus finais de semana sejam livres. Ou pagos
à parte. Just saying.
Enfim, cuidar de um bebê tem muitos aspectos positivos. Para
mim o principal mesmo é o companheirismo lindo que você e ele/ela vão
desenvolver à medida que o ano passa.
Tenho uma foto (não posso publicar aqui,
pois não acho certo colocar fotos da criança na internet) que para mim é a mais
linda de todas, apesar de estar completamente fora de esquadro: quando o B.
tinha uns 6 meses, o levei ao parque, estendi uma blanket e tentei colocar a
câmera para tirar uma foto de nós dois. No instante da foto, eu olhando para a
câmera sorrindo, ele esticou o bracinho e colocou a mãozinha na minha bochecha
num gesto imensa doçura. O olhar azul daqueles olhinhos inocentes que a câmera
registrou até hoje me enche os olhos de lágrimas só de lembrar.
A parte triste é que o bebê vai crescer e não vai se
lembrar. A parte feliz é que você nunca vai se esquecer. Mas isso tudo faz
parte da experiência.
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P.S.: Este post tem vários termos e frases em inglês, que foram
incluídos propositadamente. Imaginei que quem lesse iria gostar de ir
acostumando a leitura com alguns termos e frases de uso cotidiano, e tem coisas
que eu simplesmente –perdoem meu surto saudosista- não consigo traduzir sem
fazer perder o sentido.
P.S.2: Desculpem a extensão, eu me empolgo mesmo. :)
Foto: Eu mesma que tirei, num fim de semana em que viajei junto com eles para as montanhas.