Desde sempre, meus pais me encorajaram
a ser independente, a buscar horizontes novos, a ser feliz. Desde que
minha família surgiu, as viagens e mudanças fizeram parte do
cotidiano.
Minha mãe é de São Paulo e foi
passear no Uruguai com uma amiga. Ali conheceu meu pai, começou a
namorar a distância e poucos anos depois, mudou para lá e casaram.
Eu nasci em Paysandú, onde meus pais moravam porque meu pai estudava
lá. Quando tinha meses de idade, mudamos para Montevideo para meu
pai continuar os estudos. Ficamos um ano lá e fomos para Mercedes,
de onde era a família do meu pai. Lá nos estabelecemos, meus irmãos
nasceram e nos criamos. A cada 2 ou 3 anos, quando as condições
permitiam, viajávamos 36 horas de ônibus até São Paulo para
visitar a família da minha mãe, o que era sempre uma festa.
Moramos em Mercedes até que eu tinha
17 anos, primeiro numa casinha na cidade, depois no campo, depois
numa outra casa na cidade, ou seja, 3 casas em 15 anos
aproximadamente. Quando eu estava em idade de entrar na faculdade,
meus pais decidiram que voltaríamos para o Brasil. Escolheram
Florianópolis. Lá fiz faculdade e morei 8 anos, até que então, o
siricotico por viagens que como já demonstrei corre na minha família
me pegou e fui fazer au pair em NY.
Apesar de que quando o intercâmbio
surgiu eu já estava com 25 anos, não posso negar que tive alguns
momentos de apreensão ao pensar em deixar a casa dos meus pais para
ir para um lugar tão longe, por tanto tempo. Tive medo de partir o
coração da minha mãe (não tinha tanto medo por meu pai, que
sempre foi muito “se quiser algo, vai lá e faz”, mas no fim meu
pai acabou sendo mais inseguro e minha mãe, uma grande supporter),
mas falei com Deus, me enchi de coragem e pensei que em algum momento
alguns laços precisavam ser cortados. Que eu não deixaria de ser a
filha de sempre, que meus pais sempre seriam meus pais. Que uma hora
precisava levantar voo (literalmente), e que isso tudo era
perfeitamente normal. E foi.
No aeroporto, na hora mesmo da
despedida, minha mãe sempre tão forte, com lágrimas nos olhos, me
disse: “mas vê se volta, viu filha?”
Tive que fazer um esforço supremo para
ignorar a inundação que tomou conta dos meus olhos enquanto lhe
dava o abraço mais apertado que me lembre. Olhei mais uma vez, e fui
embora antes de que desabasse por completo. Um pouco morbidamente,
pensei que se durante esse ano viesse a acontecer algo com algum
deles ou comigo (vai que o avião cai né... brincadeirinha, mas com
um fundo de verdade), seria a última imagem que teria deles. Logo na
sala de embarque, tirei minha câmera da bolsa e gravei um vídeo, o
primeiro da minha aventura, porque não queria deixar passar a emoção
do momento. Nunca tive coragem de mostra-lo, e poucas vezes o assisti
eu mesma, mas está guardado para algum dia.
Passei dois dias das mães longe da
minha mãe, compartilhando da alegria da data por Skype. No primeiro,
eu e minha amiga também au pair brasileira sentamos no nosso
Starbucks de sempre para encher a cara de frapuccino, fofocar e
lembrar das nossas mães, e fazer planos para as próximas férias
para esquecer que não estávamos perto delas. No segundo, estava
namorando e passei o dia com o então namorado e a então sogra, e
comissionei meu irmão a ir buscar um presente que eu mesma tinha
escolhido para a minha mãe. Foi a maneira que encontrei de estar
perto mesmo sem estar fisicamente.
Fazer au pair
também significa perder, no mínimo, um de cada: um dia das mães,
dos pais, Natal, um aniversário de cada, e muitas vezes também
nascimentos e infelizmente falecimentos também. Eu perdi toda a
gravidez da minha irmã e o nascimento do meu primeiro e único
sobrinho (e o drama subsequente, que não foi pouco pois nasceu
prematuro). Também aconteceu o falecimento do meu avô enquanto eu
estava fora, mas ironias da vida, por causa de eu ter ido para São
Paulo fazer o visto, fui a última do meu núcleo familiar a ver o
avô com vida, conversando e andando, apesar de já bem doente. A
vida continua enquanto estamos longe, e a nossa vida continua mesmo
estando longe também. Desde já meu conselho para as au pairs e
futuras au pairs é que se lembrem disso: enquanto a vida (dos
outros) continua correndo no Brasil, a sua vida está ou estará
correndo nos EUA, e cabe a você vive-la intensamente porque ninguém
mais tem o poder de vive-la por você.
Talvez você esteja apreensiva por
deixar sua família. Talvez, pelo contrário, esteja ansiosa por se
virar sozinha. É provável que, por independente e descolada que
você seja, em algum momento do programa se veja sentada no chão do
quarto chorando convulsivamente e repetindo em voz baixa “Que
saudade da minha mamãe! Quero ir para casa!” Seja como for, se
isto acontecer ou não, lembre que o tempo voa.
Eu passei dois dias das mães longe,
mas este é o segundo que passo com a minha mãe depois de ter
voltado. Pouco antes do dia das mães do ano passado, mudei sozinha
para Curitiba (eu e meus pezinhos inquietos que não param em lugar
nenhum. Herdado não é roubado). Rodei os 300 km que me separam de
Floripa ano passado, e fiz isso de novo este ano, para passar o dia
das Mães com a minha mãe. E continuarei fazendo enquanto puder.
Porque por dois anos estive longe e não podia voltar para dar um
abraço na minha mãe, e isso me ajudou a crescer em vários aspectos
e entre eles a aprender a valorizar, mais além dos slogans que
sempre vemos pelas propagandas da vida, todos os momentos que posso
passar com meus queridos.
Então para você, querida au pair, que
hoje está longe da sua mãe, que ligou para ela no Skype, que talvez
chorou ao ver ou lembrar da família reunida: querida, não sofra!
Tudo passa. É uma data especial, mas é só uma data. Você está
ali, e nada vai fazer a sua mãe mais feliz do que ver que você está
feliz. Portanto saia, viaje, passeie, tire fotos, se divirta, seja
feliz aí enquanto você está aí.
E para você que ainda não foi...
aproveite o dia e todos os outros dias para abraçar, beijar, passar
tempo e expressar seu amor por sua mãe e por todos seus queridos.
Porque daqui a pouco você vai estar lá, e de um jeito ou de outro
vai se alimentar de todos esses momentos especiais que passou.
Para todas, muito feliz dia das Mães.
Mariana Spilborghs
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